terça-feira, 22 de abril de 2014

Sincericídio...


Pic:Decaying Orchid was shot by Billy Kidd.


Sincericídio...
Hoje eu encontrei uma pessoa que conheci há uns 20 anos atrás.
Alguém que passava na rua e este me perguntou "o que aconteceu com você"?
Ahhh aconteceu muita coisa ... 
mas o que de fato importa é que nunca se importaram com o que aconteceu 
e pela mesma cartilha eu aprendia a não me importar com o que acontecia comigo.
Há muito não me importo com o que acontece com os outros.
Eu posso ate perguntar "como vai, tudo bem", 
por uma simples questão de educação,
 mas a verdade é que eu não tô nem aí...
De 20 anos para cá eu vim dia a dia morrendo
 de forma homeopática para a Sociedade.
Daí a pessoa me encontra na rua e pergunta 
"o que aconteceu com você?" 
Pergunta simples e difícil.
Eu não vivo, eu sobrevivo em pré coma 
e aquela Silvana sorridente, 
cheia de esperanças não existe mais há muitos anos...
sou uma real marginal, pois sou sobrevivente.
Não tenho sobrenome e nem amiguinhos para trampar no que eu gosto, 
então como muitos eu apenas sobrevivo.
Marginal:que vive à margem de uma Sociedade perversa. 
Aquela que senta meio de longe e fica admirando 
como se estivesse em um circo 
aquelas pessoas se embriagando de álcool 
na beira  da praia gritando interjeições 
e ovacionado um modo de vida 
que talvez se adequasse nos anos 70.
Não hoje em dia.
Eles  acham que aquilo é felicidade.
Não é, aquilo ali é teatro. 
É querer dizer que está tudo bem 
tampando o sol com o mar, 
o sal e a areia.
Gengivas aparentes cozidas todas em uma mesma panela,
panela esta que eu fui convidada a me retirar 
há anos simplesmente por não saber fazer lobby. 
Sim, sim,fazer lobby é uma arte 
e você não necessita ter competência para porra nenhuma.
Você precisa saber apenas puxar o saco..
obviamente que dentro da panela existe uma pirâmide de grau de importância: 
desde os pops até os lambe botas. 
Eu sempre fui eu. 
Daí ao dizer isto à pessoa hoje tomando um café, 
ele disse "mas assim você  afasta as pessoas."
 Eu trocaria tranquilamente o termo pessoas por peçonhas, porque quem me conhece sabe de minha dores, o meu sofrimento, a minha luta, 
as minhas dificuldades na vida.
Elas não viram as costas para mim. 
Eu apenas de vez em quando convivo com elas 
mas não existe mais há muito um grau de envolvimento, 
afetividade ou amizade. 
Aprendi que era melhor apenas conviver e só. 
Se ficou doente, se caiu ali do meu lado, bem: paciência, não sou Atlas...
não fico de lesco, lesco para trabalhar num filminho ali, 
num teatrinho cá ou algo assim. 
Eu levo a minha vida e se eu tenho que vender Natura para sobreviver eu vendo. 
Eu considero melhor do que pedir qualquer coisa 
a estas pessoas que me viram definhar e passar fome. 
Isto já aconteceu na cara da tal da Sociedade carioca.
Não, ninguém tem culpa, a culpa é minha mesmo que considerei pessoas que nunca foram amigas...
minha mãe sempre dizia "eu só quero quem me quer", 
e eu quero muito poucos hoje em dia, 
a maioria são pessoas da comunidade. 
Pessoas simples que se tornaram amigas de verdade com o tempo.
Eu não sei dançar como estas peçonhas,meu ritmo é outro, 
meu som é sincopado. 
Sintonizo o choro dentro de meu ventre, 
eu me debulho em lágrimas sempre sozinha.
Coloquei pessoas em minha casa e fui roubada.
Acreditei em outras e roubaram o meu patrimônio.
Eu fiquei nua e fui endurecendo. 
Silvana, aquela Silvana morreu...
Durante anos, vi pessoas medíocres que nem sabem escrevem português corretamente virarem escritores, roteiristas e até jornalistas porque tinham contatos...
vidinha cariôca o teu mundo é medíocre e nojento e SIM, 
se eu tivesse dinheiro faria que nem Carlota Joaquina...
vidinha cariôca o teu mundo  se reduz aos desfiles de corpos e sorrisos no Arpoador, 
lugar este que de vez em nunca apareço agora apenas pela manhã 
e lá na ponta.
Apareço perto da pedra, secretamente 
e de longe do "point" da jeunesse dorée ( não são mais tão jeneusse assim).
Não venham me perguntar o que aconteceu comigo.
Não venham tentar entender algo que é claro e obscuro, 
porque aquela Silvana se foi há muito tempo 
e com ela todo e qualquer sorriso para aqueles que ela conheceu há muito tempo.
Eu sou um ectoplasma:
baba de alma babaca que sempre desejou o bem de todos. 
Desperdicei energia demais desejando o bem dos outros,
e de uma certa forma cada um que eu conheço por culpa minha mesmo,
 e por culpa de minha esperança de Pollyanna,  
que foi me ensinando a ser o que hoje em dia eu sou: um deserto.
Cada um que esperei um sorriso, 
um olhar de cumplicidade cuspiu 
e esculpiu uma nova Silvana.
Posso hoje em dia afirmar que eu fui moldada na base do desprezo 
e da indiferença.
Eu fui forjada pelo choro e pela dor...
não,não me venha então perguntar o que aconteceu...
S.F.



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