Me by Me S.F. |
Under Construction...
O Cheiro Do Grão De Bico De Molho
Enquanto conversavam,
ela sentia o cheiro de grão
de bico que faria amanhã para a salada.
A cozinha impregnada
e a boca cheia d’agua.
Salada de grão de bico com tomate,
cebola e pepino.
Um prato bem verão para o almoço.
Poucas vezes ela fazia.
Conversar com ele era algo bem raro também.
Não acontecia muito.
Não daquela forma leve.
Uma Era de Liquidez Bauman.
Duas almas cúmplices de situações da vida.
"Querido e querida”.
Ele era muito querido mesmo.
Tavez porque nunca a tivesse enganado
ou talvez porque ela tinha vontade de olhar aquela
cor de olhos muitas vezes.
Ver-se refletida ali naquela lago.
Pertencia à uma gama de um verde muito estranho.
Beirava o bizarro de tão claro.
Era expressivo demais para um acastanhado.
Ela,menina Mogli amava verdes.
Um puxava o S de um jeito
e o outro de outro.
“I say potato and you say potato”
bem Gershwin nos acentos mas
não nas procuras.
Havia uma saudade sem razões concretas.
Curiosidade infernal tomava conta desde
que ele mandou a real e lhe deu uns esporros.
Dois fodidos na vida
e ela só o desejava.
Ela o desejava só e nu.
Sombras e sussuros.
Queria lhe dar zillhões de beijos até ele dormir seguro,
sem incomodá-lo (muito).
Para ela, ele era alguém raro.
Jóia encrustada numa caverna.
Tudo bem já que estávamos num tempo
aonde a caverna de Platão imperava de forma
aguda, gritante e apavorante.
Não importa a expressão camarada.
Saramago foi profético neste ponto.
Quanto à ela,a guria lânguida,
a tal nariguda de olhar petulante.
Bem, ela era apenas ela.
Raposinha arredia tentando sobreviver no meio dos leões.
O pai dela costumava resmungar pela casa:-
“fodeu, fodeu, minha filha vai ter a boca da Gal!”
Ela já havia sido de tudo na vida.
Tudo lícito que fique claro.
Amava mesmo ser batuqueira de havaianas
e longos cabelos.
O mais estranho era que sempre teve cabelos curtos .
Após os 40, ela resolveu deixar o cabelo crescer.
Era a hora e a vez do cabelo crescer,nascer,se manifestar!
Hippie em alma que venerava aromaterapia, pedras e cristais.
E Ele era o seu diamante .
Um ser bom em essência.
Gente fina de sorriso meigo.
Não havia qualidades maiores nos dias de hoje.
Estávamos em uma gruta,caverna, Platão, Saramago e no way out.
Bem já que estavam neste período então que a gruta fosse a de Maquiné
e com este diamante raro no centro.
E pelo menos assim quando o sol batesse e
que a voz paulista reverberasse com aquele sotaque gostoso,
ela poderia ver um prisma ao seu redor.
Arco-íris quarto escuro:revelações granuladas e cheias de texturas.
Muro sambando,“Viscontino" de Sabugosa levitando.
Um cara que necessitava de carinhos sem pressões.
Ninguém precisa disso.
Já estamos em cima de uma panela de pressão.
Ele era uma parede-muro cheia de poros.
Havia musgos e orquídeas e vida por tudo que era canto.
Abelhas raras lhe sugavam a seiva enquanto as flores nasciam
em valsa.
Guri delícia, homem neurótico.
Alma doce e nobre.
Quanto à ela, bem,
ela amava dar amor.
Ele recuava.
Ele não acreditava no amor.
Foram os baques da vida.
Ahhh ,aquele sotaque gostoso.
Tábula nada rasa.
Profundo ser bem quisto.
Ela amava aquela pedra bruta.
Todos os dias mesmo sem se falarem,
ela passava as mãos com carinho no tal cristal.
Torcia para que nenhum selvagem humano
tentasse retirá-lo dali.
A essência deveria permanecer livre.
Ela queria lhe dar colo um dia.
Sem questões ou futuros.
Ouvir o seu respirar e dormir ali ou lá.
Ela acordaria e lhe traria café na cama.
Frutas cortadas, café, pão quentinho com manteiga
e uma geléia para o contraponto.
Peitoral piscininha.
Enquanto conversavam o cheiro do grão de bico
apoderou-se do ambiente.
Cheiro da natureza.
Alimento cru na água em preparo.
Todos os sonhos da guria se tornavam árdua tarefa:
amar o inconquistável.
Lambê-lo que nem gato.
Deitar e rolar na relva comendo uma salada
de grão de bico regada à limão siciliano.
E que limão!
S.F.
Dedicado à Ícaro Nabo Muro Viscontino De Sabugosa Hopper Samambaia Schiele Ulala Muro
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