sábado, 28 de maio de 2016

Memórias Ocupadas



Quando eu acordei no Palácio Gustavo Capanema, 
eu nem dormi porque era muita gente roncando 
e despertador de celular mas eu olhei e vi da janela aquele gigantesco edifício da Vale do Rio Doce que agora se tornou apenas Vale.Aquilo é uma afronta.A Vale ainda existe por aí poluindo e destruindo e ninguém mais fala de Mariana/Samarco. 
Somos tão sem memória e tão latinamente efervescentes nas demandas que acabamos por pautar as próximas questões e esquecer as passadas que são irreversíveis.A Vale não deveria existir mais e o seu edifício me incomoda e a sua existência é ultrajante.
Eu estava lá deitada no tapete cinza crespo tombado do Palácio.E alérgica que sou eu tive 2 certezas:os ácaros dali eram bem nutridos e me fariam incomensuravelmente mal e de baixo para cima olhava o edifício da Vale com repúdio.
É ali que muitos assassinos de colarinho branco se escondem,trabalham e sorriem com tragédias e negociatas.
Derramei 4 lágrimas olhando a logo da Vale.
Edíficio enorme e eu impotente.Eu ácaro diante deles.
Me lembrei imediatamente de Mario Quintana
e de seu Poeminha do Contra
"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"
Fiquei ali estatelada.
Eu ácaro no tapete.
Não tinha a mínima importância eu ocupar,estar,
ser ou vazar.
Ácaro que observa e catalisa e escreve o que sente
ou o que sofre.
Daí percebi a chuva e o céu cinza e me remeteu à Blecaute do Rubens Paiva.
Me percebi e me senti absolutamente solitária entre uma colônia de ácaros insatisfeitos.
Estamos aprendendo a nos mobilizar.A minha solidão é algo a que me pertence.É salutar.
E dali naquele lugar dantes morto e museu eu percebi amor,renascimento, comprometimento,ego muito ego pois são artistas o que é comum.
Há um índice de sensibilidade aguçado.Eu percebi delicadeza, responsabilidade,envolvimento por parte de todos ou quase todos.Virou um corpo bombado e forte apesar de alguns tombos.
Estamos juntos e divergimos mas e daí se divergimos?Estamos juntos.
Estamos nos fortalecendo e nos mobilizando mais facilmente.
Eu espero que isto se torne uma regra.Sinto por não mais estar.
Adoeci e o individual não pode enfraquecer o coletivo.
Diante deste mundo eu vi muitas pessoas lutando contra um golpe de Estado apenas com o que sabem fazer de melhor: dar amor  através da arte e com mobilização.
Retornei à minha casa com mais esperança no ser humano apesar da existência de monstros engravatados que dirigem e digerem a Vale.
Por mim aquele prédio enfim completem o meu pensamento por favor.


@S.F.

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