Senhora do Lago
EVa se amava tanto que diante de todas as esquisitices se apaixonou por si mesma.
Se tinha uma coisa que ela sabia,
era que ela era esquisitaça.
Eva sem Adão,Eva sem ninguém.
Solitária,ermitã e narcisista.Desamigada.
Alma solitária, corte nas veias e na jugular.
Personagem de uma infinita novela dramática.
E com todo o sofrimento dos apaixonados,
ela chorava por não suportar o amor por si.
Ela se amava e queria se possuir mas não podia.
O espelho não era mais o suficiente.
Sofria por não ser duas.
Mergulhou profundamente na relação à 1
e pediu o seu umbigo em casamento.
Pôs uma aliança feita com seus próprios cabelos.
Cortou a franja na lua cheia
e teceu um anel ungido com sangue de seu ciclo.
Fura bolo, mata piolho,monte de Vênus indecente.
Capô de fusca que na praia ofusca.
Amava o seu corpo esguio e as passagens de verão.
Amava-se mais que tudo e decidiu amar-se mais ainda mergulhando em seu umbigo.
Não se importava com mais nada.
Maquiou-se com urucum
e travestiu-se de mulher delicada.
Sumiu aos olhos do mundo real.
Um mês depois o dono da casa resolveu reclamar o aluguel,
abriu a porta e encontrou a casa vazia,
os lençóis azuis cheios de sangue
e o tal anel feito com seus cabelos no centro da roupa de cama.
Eva mergulhou em si mesma, fez do lençol o seu lago
e virou Iara em um mundo paralelo.
Nunca mais a encontraram.
S.F.
Tim Walker
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